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É possível vislumbrar o ensino de história em um dōjō?

Atualizado: 8 de mai.

Por Pablo Lacerda Bueno


Diferente de boa parte dos integrantes deste ilustre grupo, não sou um praticante das artes marciais. Como muitos, já tive contato com algumas delas, mas por quaisquer motivos (ou desculpas) não continuei. É minha intenção (e proposta) traçar e relatar uma trajetória sobre minha experiência de ingresso e de continuidade em uma arte marcial.


Tal escolha não será aleatória, bem como nela reside um propósito educacional. Busco uma arte marcial que possa se somar aos estudos de história, levando alunos de uma escola pública a também praticá-la, enquanto nesse meio oportunamente engatilho a cultura asiática e história da Ásia como parte do saber que envolvem esta luta. Se bem-sucedida, espero fazer um acompanhamento do desempenho escolar e de vida destes estudantes, observando de qual forma e como a arte marcial colabora com a relação do sujeito frente à escola e ao conteúdo nela veiculado, tomando a liberdade de transpassar a restrição das especificidades curriculares esperadas.


Esta proposta parte de alguns motivadores. Primeiramente, de provocações resultantes da elaboração de minha dissertação no mestrado profissional do ProfHistória. Durante o processo de qualificação, várias perguntas permaneceram sem respostas apropriadas. Um dos dilemas dos defensores de uma maior visibilidade de história da Ásia no currículo se dá no encaixe de mais conteúdos e habilidades em contraste com a já superlotada agenda de assuntos que o professor precisa transmitir aos alunos em um quadro de horários semanais cada vez mais reduzido.


Em conversas com meu orientador (Guilherme Luz), numa de suas observações sobre a importância de a cultura asiática ser apreciada, ele levantou a perspectiva de se trabalhar conteúdos de Ásia sem que haja amarras com a base curricular nacional. Partindo desta proposta, os conteúdos e habilidades poderiam ser apresentados sob demanda, através da oportunidade sensível ao momento, buscando gatilhos a serem acionados e não os formatando em uma sequência expositiva ou em exigência de saberes. Seria esta uma resposta apropriada às expectativas de um ensino que incluísse a cultura e história da Ásia? Aqui se demanda a prática e sua consequente análise para melhor embasamento.


Estes contextos livres, viáveis em espaços outros de produção de conhecimento, ainda poderiam migrar para a sala de aula se contextualizados com os tempos históricos dos conteúdos específicos expostos no dōjō, estimulando o entendimento do caminho trilhado até o contexto de gênese da arte marcial que se aplica.


Saberes veiculados no grupo da EDUCAM são um constante lembrete de minha própria inexperiência em relação às artes marciais. Existe um universo de conhecimento sobre as lutas, aqueles que as criaram e/ou divulgaram, a filosofia contida em cada uma delas e as intencionalidades em alguns discursos que ora promovem, ora condenam. Tenho aprendido com cada um dos integrantes que partilham suas trajetórias e contribuições.

Acredito que ainda não seja hora de prestar minha própria participação. Este começo depende de uma série de pormenores e de minha aplicação em prol de um bom embasamento, que não se limita na teoria acadêmica. Meu interesse em artes marciais, porém, é puro. Há algum tempo almejo praticar algo que não se restrinja apenas à atividade física.


Meu lado acadêmico não só justifica, como direciona este objetivo. Na ideia de dar continuidade a produções focadas na Ásia, sobretudo no Japão, considero que esta arte marcial deva ser oriunda deste país. Esta decisão não impede o diálogo com outras regiões, embora para fins de objetividade eu tenda a falar mais especificamente desta nação, bem como discutir os pormenores de suas artes.


Com o objetivo de prestar o doutorado profissional (já esboçando uma possível tese), procuro um direcionamento. Ao transitar entre sala de aula e dōjō, estimulo a construção de um projeto que me mantenha próximo à EDUCAM pela prática de artes marciais e à linha de pesquisa em termos de ensino e aprendizagem em espaços de memória que transcendem a sala de aula. Mesmo tendo pouco domínio, me sinto em casa neste espaço e neste segmento de pesquisa.


E aqui me encontro, na proposta de demonstrar como este projeto se seguirá em seus desafios e suas conquistas. Uma trajetória que conta com os avanços acadêmicos e das práticas da arte marcial que escolherei (incluindo-se aqui a própria definição de qual será). Acredito que a experiência da prática desta atividade e o oferecimento de um método para se ensinar história nestes espaços possa contribuir com vários quesitos, como a difusão de saberes sobre Ásia (e que estão atentos a detectar estereótipos, ressignificando-os em concepções mais bem contextualizadas) e os caminhos práticos e teóricos sobre uma arte marcial.

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